O Globo
Rio - Imprensa
Manifestação contra aumento de passagem de ônibus vira baderna, com confronto e prisão de 20 pessoas
FÁBIO TEIXEIRA
LAURA ANTUNES
O cinegrafista Santiago Andrade, da Rede Bandeirantes, foi atingido ontem na cabeça por um artefato — possivelmente uma bomba caseira — durante mais uma manifestação violenta no Centro.
Não se sabe ainda quem agrediu o profissional. Ele foi levado em estado grave para o Hospital Souza Aguiar, onde foi submetido a uma neurocirurgia. O hospital informou que Santiago chegou em coma. O cinegrafista teve afundamento do crânio e perdeu parte da orelha esquerda. Segundo testemunhas, ele perdeu muito sangue ainda no local e foi socorrido num carro da PM.
Durante o protesto, houve várias cenas de violência, em que grupos atacaram policiais com pedradas, quebraram mobiliário urbano e invadiram a estação de trem da Central do Brasil. O ato era contra o reajuste da passagem de ônibus amanhã, de R$ 2,75 para R$ 3, e reuniu cerca de 800 pessoas. Os manifestantes estimularam os usuários da SuperVia a pularem as roletas, como ocorreu em protestos anteriores. Policiais revidaram as agressões com bombas de gás e também de efeito moral.
ESPECIALISTA: ARTEFATO CASEIRO
Além de Santiago, foram levados para o Hospital Souza Aguiar outros seis feridos: cinco homens e uma mulher.
Ao analisar as fotos feitas pelo GLOBO da agressão ao cinegrafista, o estrategista e especialista em material bélico Ronaldo Leão disse tratar-se de um artefato caseiro. Segundo ele, seria um artefato de média a alta tecnologia, com alto poder de destruição.
Em nota, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) repudiou o ataque ao cinegrafista da Band e disse que ele é o terceiro jornalista ferido em protestos este ano. Em 2013, foram 114 profissionais feridos durante manifestações no país. A associação pediu que o caso do cinegrafista seja investigado com rapidez.
Durante os choques entre manifestantes e PMs, houve muita correria ao longo da Avenida Presidente Vargas, que chegou a ser completamente fechada. Os confrontos aconteceram principalmente nas imediações da Central, embora bombas também tenham sido disparadas dentro da estação. Cerca de 20 pessoas foram detidas, de acordo com o Instituto de Defensores de Direitos Humanos (IDDH). Outras teriam sido feridas com golpes de cassetete.
METRÔ FECHA ACESSOS
Na Rua Bento Ribeiro, ao lado da Central, um grupo de manifestantes derrubou tapumes de metal de uma obra para usar como escudo, tática já utilizada em outras ocasiões por black blocs. O grupo ainda usou pedras para atacar policiais do Batalhão de Choque. Muitos manifestantes corriam pelas ruas com camisas encobrindo os rostos e atearam fogo a lixeiras. Assustados, pedestres buscavam abrigo.
Por volta das 19h20m, os acessos para o Campo de Santana e para o Ministério do Exército da estação Central do metrô foram fechados. Dez minutos depois, os portões da Central também foram fechados, segundo a SuperVia. Mais cedo, a concessionária solicitara reforço do 17º BPM (Ilha do Governador) para garantir a segurança dos passageiros.
Pouco antes das 22h, a Rua Bento Ribeiro continuava interditada, e havia retenções no trânsito no entorno da Central. Na opinião do presidente do Movimento Rio Pela Paz, Rommel Cardozo, os atos de vandalismo servem apenas para tirar o foco das reivindicações e amedrontar os manifestantes:
— Os cariocas e os brasileiros, em geral, não suportam mais os preços abusivos. Por isso, as pessoas vão para as ruas protestar. As pessoas estão perdendo a esperança de ter uma cidade e um país melhor. E os governantes nada fazem para dar uma contrapartida. Acho que os atos de vandalismo não agregam valor. Pelo contrário. Quando as pessoas começam a quebrar as coisas, terminam por amedrontar quem está ali para exigir seus direitos — disse Cardozo.