Jornalismo investigativo e democracia

    por Luciana Kraemer*  
    Publicado em 25 de julho de 2012 no jornal Zero Hora

    O pesquisador argentino Silvio Waisbord tem contribuído teoricamente para o campo do jornalismo investigativo e destacado o papel que este modelo ocupa na democracia. Segundo ele, as matérias investigativas fornecem um mecanismo importante para monitorar o funcionamento das instituições democráticas, como órgãos do governo, empresas públicas e agentes públicos. Não por outro motivo, diz outro pesquisador e jornalista, também argentino, Daniel Santoro, é o ramo jornalístico que mais tem confrontado o poder.

    Na carta da editora do último domingo, a diretora de redação da ZH afirmou que o jornal fez uma opção por buscar com mais frequência o enquadramento associado ao Jornalismo Investigativo. Mais do que um selo, uma expressão que carimba matérias exclusivas, parece haver compreensão de que o jornalismo investigativo implica um fazer diferenciado, em que fatores como trabalho em equipe, processo de apuração, tempo, técnicas de busca e de cruzamento de informações, são fundamentais. É uma escolha que reivindica capacitação dos profissionais, saída dos repórteres da função diária, organização da equipe, portanto, investimento, o que não se tem visto nesta área específica ultimamente.

    No último congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, Cleofe Monteiro de Sequeira, uma das precursoras no estudo do jornalismo investigativo no Brasil, lembrou um estudo de 1995, feito por Manoel Carlos Chaparro, onde o autor analisava o percentual de reportagens investigativas dos jornais de maior tiragem do Brasil: o primeiro da lista não havia produzido mais do que 2,5% do total das matérias daquele ano. Em outro trabalho, que se constituiu na tese de doutorado do jornalista gaúcho Solano Nascimento, foram analisadas reportagens feitas em três grandes revistas semanais de grande circulação nacional nos cinco anos em que houve eleição para presidência, que compreendem o período de 1989 a 2006. A constatação foi que as reportagens investigativas caíram de 75% para 30% e as baseadas em investigação oficial (reportagem sobre investigação) aumentaram de 25 para 70%. Os fatores que explicam estes dados são diversos, há que se considerar também que o jornalismo investigativo ganha força no Brasil a partir da redemocratização, e que o campo teórico também está se constituindo.

    A própria definição de jornalismo investigativo admite uma variedade de enquadramentos, vai desde o método de apuração, passando pela busca por irregularidades envolvendo governo ou autoridades políticas, descortinamento de algo que se quer esconder. Ao revelar falta de transparência e má gestão do recurso público, colabora para a accountability, expressão que se relaciona com controle público e responsabilização. A opção pelo jornalismo investigativo, portanto, interessa aos jornalistas e tem relação direta com o leitor e o eleitor: pode ser um instrumento importante de cobrança, de tomada de decisão e de escolha consciente.

    *Professora de Jornalismo da Unisinos e Centro Universitário Metodista IPA, diretora da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo)

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