Liberdade de expressão e senso comum

    Correio Braziliense
    Opinião - Liberdade de Expressão

    Publicação: 24/09/2012

    Intolerância rima com ignorância. Ambas as palavras se ajustam à ação e reação contra e a favor do Islã que se alastram mundo afora. O filme americano A inocência dos muçulmanos, publicado na internet, difama Maomé e, em consequência, ofende os seguidores do Corão. A película, de quinta qualidade, apresenta o profeta como ladrão, assassino, pedófilo. Temendo respostas violentas, o diretor se esconde atrás do pseudônimo Sam Bacile, cuja identidade ninguém conhece.

    Os protestos não tardaram. Voltou, com intensidade multiplicada, o sentimento antiamericano. Representações diplomáticas e centros culturais foram alvo de ataques e depredações. O embaixador dos Estados Unidos na Líbia perdeu a vida. Manifestações, com saldo de dezenas de mortos, tomaram as ruas de países muçulmanos. O medo se espalhou pelo Ocidente e acendeu o alerta vermelho sobretudo na União Europeia e nos Estados Unidos, que reforçaram a segurança interna e externa.

    Para acirrar mais os ânimos, a revista francesa Charlie Hebdo divulgou charges que satirizam Maomé. Publicação alemã promete segui-la. Os autores afirmaram que agiram em nome da liberdade de expressão — uma das principais conquistas da civilização ocidental e valor sem o qual inexiste democracia.

    A questão é extremamente delicada, sem dúvida. Ela põe em xeque os limites da liberdade de expressão. O secretário-geral da ONU, Ban-Ki-moon, manifestou-se em nome da organização. “A liberdade de expressão é direito inalienável que deve ser protegido, com a condição que não ofenda as crenças e os valores dos demais. Quando o faz, não pode ser protegido da mesma forma.”

    Maomé, para os muçulmanos, é o profeta de Deus. Ele, segundo o Islã, recebeu diretamente do Senhor a mensagem que originou o Corão — uma das joias literárias da humanidade. É merecedor de tal respeito que os seguidores consideram profanação representar-lhe a imagem. Pode-se ter uma tênue ideia, assim, da ofensa que as cenas e charges degradantes constituíram para milhões de homens e mulheres.

    Há seis anos, quando jornal dinamarquês publicou caricaturas do profeta e originou explosão de fúria muçulmana, o prêmio Nobel José Saramago afirmou: “Alguns dizem que a liberdade de expressão é direito absoluto, o único direito absoluto que existe. Mas a dura realidade impõe limites. Não se trata de autocensura, mas de usar o senso comum. Em situação como a que vivemos e conhecendo as polêmicas em torno do assunto, o senso comum nos diria o que fazer”.

    É em nome do senso comum que o mundo apela aos líderes religiosos e políticos do Islã para que peçam calma aos fiéis. E, se julgarem necessário, acionem a Justiça. A tarefa não é fácil. Mas se impõe em nome da convivência internacional.

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