O Globo
Opinião - Eleições
LUIZ GARCIA
É uma praxe em quase todos os países que vivem sob regimes democráticos: nos meses de campanha eleitoral, entram em ação empresas que ganham a vida descobrindo, por meio de pesquisas de opinião, o que vai na cabeça dos cidadãos. Usam as mesmas técnicas empregadas para descobrir se o pessoal está interessado num novo tipo de sabonete.
Há quem defenda que declarações de voto antecipadas de alguma maneira prejudicam a lisura do processo eleitoral. Seria, pode-se especular, uma forma de induzir eleitores indecisos a apoiar os candidatos mais citados nas pesquisas. Quem não acredita nisso pode argumentar que as pesquisas são simplesmente a constatação de uma tendência do eleitorado.
Pode-se dizer que a mídia dedica boa parte de seu tempo nas temporadas eleitorais a identificar os favoritos e os sem chance. A divulgação de pesquisas seria simplesmente uma constatação de tendências e decisões já tomadas por uma parte dos eleitores.
Na campanha atual, pela primeira vez a Justiça Eleitoral tomou posição a respeito. No Ceará, um juiz proibiu a divulgação de pesquisas de intenção de voto na disputa pela prefeitura de Fortaleza. E o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná vetou a publicação de intenções de voto na disputa pela prefeitura de Curitiba.
São decisões discutíveis, tanto que, no caso do Ceará, o TRE derrubou a decisão do juiz. Considerando-se que as pesquisas são honestas, o fato de que o eleitorado está tendendo para este ou aquele candidato é uma notícia legítima. Tanto pode ser apurada por especialistas em pesquisas como pelo trabalho da mídia.
E os cidadãos têm o direito de saber o que a massa do eleitorado está pensando sobre a campanha. Se a sua decisão de voto é influenciada por esse tipo de informação é um problema seu. Ninguém tem o direito de mantê-los no escuro.
Além disso, o veto à divulgação de pesquisas sugere ao eleitor, mesmo que não exista intenção disso, que elas não seriam autênticas, intencionalmente ou não. Tanto as empresas especializadas em aferir as opiniões dos cidadãos como os órgãos da mídia que publicam o resultado desse trabalho estão implicitamente acusados de incompetência ou coisa pior. Em nenhum dos dois casos esse tipo de suspeita é justificado.